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16/abr/2024
Nissan 8, 5784

Festas Judaicas (Chaguim)

Pessach

Um Seder Cancelado

Na noite de 18 de Abril de 1943, jovens judeus do movimento juvenil Hashomer Hatzair se preparavam para comemorar o Seder quando um informante trouxe a notícia que a policia polonesa havia cercado o Gueto e que tropas nazistas estavam se agrupando. Em sua preleção antes da batalha Mordechai Anielewicz, 24 anos, comandante da ZOB (Zydowska Organicacja Bojowa – Organização de Combate Judaica) assegurava aos seus comandados "... meses de luta nos labirintos do Gueto, se conseguirmos armas o inimigo pagará com rios de sangue...". Meses de luta? Rios de sangue nazista? Mordechai falava como se estivesse na véspera de uma batalha entre dois verdadeiros exércitos. Os jovens comandantes com suas pistolas se deliciavam com as imagens de poder revidar em espécie ao inimigo.

O Levante do Gueto de Varsóvia foi único em seu gênero na história da humanidade. Foi uma revolta fadada ao fracasso antes de começar tendo a rendição dos combatentes equivalente a uma condenação à morte. Era uma revolta que não contava com surpresa na qual o inimigo ditava as condições e os locais de combate, provocada por um grupo totalmente isolado. Cerca de 1500 combatentes judeus, sem nenhum treinamento, alguns organizados, na maioria desorganizados, com armas leves enfrentariam a fúria da maior e mais bem organizada máquina de guerra do Século XX, o exercito nazista da Alemanha. Os judeus levavam duas grandes vantagens: a vontade de lutar até a morte e, paradoxalmente, o labirinto do Gueto. A grande diferença, entretanto, entre milhares de batalhas entre inimigos fortes e fracos é que esta era a primeira vez em quase 2000 anos, desde Bar Kochba, que os judeus se revoltavam, pegavam em armas e se defendiam.

O Seder foi interrompido e o preparo para a batalha iniciado. No dia 19 de Abril, às 6 horas da manhã, o general Juergen Stroop esperava ouvir do Coronel Von Sammmern-Frankenegg o resultado de sua incursão no Gueto. O coronel encabeçando 850 homens da elite da SS com 16 oficiais marcharam dentro do Gueto em formação cerrada. Dois tanques acompanhavam as tropas e 2000 homens estavam de prontidão como reforços. Havia mais 7000 homens prontos para intervir caso a revolta se espalhasse por Varsóvia.

Zivia Lubetkin observava a entrada de "centenas" de alemães pelo portão da rua Nalewki. Os combatentes deixaram os nazistas penetrarem o suficiente dentro do Gueto e a armadilha se fechou. Granadas, coquetéis molotov e tiros no meio das tropas nazistas deixaram dezenas de mortos e feridos no chão. Os nazistas corriam para todos os lados em fuga abandonando seus colegas feridos e gritando apavorados "os judeus estão armados... há mulheres atirando...".

Neste primeiro dia de Pessach, um bando de judeus acuados, desesperados, condenados à morte apenas por terem nascido judeus, havia decidido resistir e conseguiu esvaziar o Gueto de forças inimigas sem sofrer uma única baixa. O dia seguinte seria diferente, mas, neste primeiro dia foi erguida uma bandeira sionista, azul e branca com a estrela de David, sobre um território reduzido de cerca de 100 ruas de Varsóvia. Era o primeiro território independente e soberano judeu desde a destruição do Segundo Templo. Foi o primeiro tiro dado na Guerra de Independência do Estado de Israel que declararia sua independência cinco anos mais tarde.

Pessach, a festa da liberdade que comemoramos todo ano como se nossa geração tivesse saído do Egito, também deve ser comemorada como se cada um de nós tivesse dado um tiro em Varsóvia.

Bibliografia: The Bravest Battle de Dan Kurzman – Pinnacle Books 1976


Autor: Alain Bigio